XXX — the devil is a lonely night [RP FECHADA]

O dia tinha sido significantemente chato, e teria sido mais se não soubesse que teria companhia à noite. Quem ainda pega sarapintose? Bufei enquanto terminava de abastecer as prateleiras com frascos de vidro novos; tinha que pedir reposição de bezoar e losna, mas aquela definitivamente não seria a hora. Peguei uma pequena caixa de isopor de debaixo do balcão para então me jogar sentada ao piso frio da farmácia, deixando-a ao meu lado.

Estava frio, mas a blusa de mangas compridas sob a roupa privativa escura cumpria sua finalidade. Ouvi passos rápidos no corredor afora mas sabia que não era ele; sua cabeça era um tanto notável pra não marcar presença. Aliás, aquela era uma das horas mais tranquilas do dia pra mim, sem toda aquela confusão de vozes na cabeça, apenas zumbidos remotos, como o som da televisão quando estamos prestes a pegar no sono. Chequei o relógio de pulso sob a manga da blusa, e me certifiquei pela milésima vez que o maço na minha bolsa estava vazio, como se encará-lo magicamente fizesse surgir um cigarro de cereja. Uma cartela de remédios estava logo ao lado, mas a ignorei.

Faziam tempos desde que tinha visto Maisie; a loira estava mergulhada no novo projeto artístico. Trocávamos mensagens de vez em quando, nos víamos menos ainda, e eu precisava admitir que sentia falta do calor do abraço dela - quando não estávamos gritando e jogando vasos de cerâmica uma na outra. Desbloqueei o celular na esperança de alguma mensagem recebida, apenas para bloqueá-lo segundos depois com um suspiro. Quem te viu, quem te vê, Dahlia.

Amarrava meus fios escuros num rabo de cavalo quando ouvi um pensamento se aproximando. Sede, fome, desejo, não sabia distinguir bem o que era, mas o conhecendo, sabia que era algo entre isso. Sempre era. Senti os cabelos curtos da minha nuca se arrepiando por um breve momento, e então o sininho da porta da farmácia tilintou, anunciando a chegada dele — Finalmente. Se perdeu pelo caminho?

Encarar o maço de cigarros vazio não fez surgir um cigarro, mas outro maço inteiro, aparentemente. Já ia puxando um quando senti o desespero dele ao meu lado, parecia precisar de ajuda mais que eu, e quem eu seria se não ajudasse os necessitados? Mas não houve tempo de reagir antes que seus braços me prendessem junto ao chão. 

O sangue me subiu às bochechas num súbito conforme sentia sua excitação contra minha barriga, e minhas coxas se pressionaram entorno o quadril dele automaticamente, como se meu corpo não conseguisse não responder seus estímulos. Até algum tempo atrás a sensação me era familiar... Nas terças, nas quintas, nos sábados — Boa noite, Dr...

— ... Lestrange — seu nome me escapou dos lábios num gemido de satisfação quando ele libertou minha boca, guiando os dedos emaranhados com força em meus fios até que meu rosto encostasse no balcão; a cada ida e vinda uma nova onda de prazer me tomava e deixava meu corpo cada vez mais mole e entregue. Um estalo alto soou no ar e arfei com um sorriso, não me importava se ouvissem lá de fora. Adorava como as coisas com ele eram descomplicadas, não eram precisas conversas fiadas nem enrolações, só a mais bruta honestidade, tão bruta quanto ele dentro de mim.

— Calma lá, garotão — suas mãos tomando minha cintura como se eu fosse sua podiam trazer gatilhos escondidos lá no fundo, e seus pensamentos impuros em nada ajudavam, mas afastei seu corpo até inverter as posições, sentando no seu colo. Não seria certo. Deslizei a mão suavemente pelo peito de Jack, afastando a barra do jaleco — A emergência estava cheia hoje? Parece estressado — acendi um cigarro ainda sem sair do colo dele, dando um trago prazerosamente lento e sentindo seu olhar recaindo sobre mim - não tinha comprado meu papo furado. Claro que não tinha.

Recuperei o garrote e o ajudei a prender em volta do braço, com o cigarro pendendo no canto da boca, gesticulando com a cabeça para a caixinha ao nosso lado, pra então fitar seus olhos tempestuosos — Quer ajuda?