Arkane atravessou as portas do estabelecimento com animação, enquanto sorria feito criança ao ver todos os sabores e doces dispostos na loja. Visitar o Beco Diagonal quase sempre se provava ser um desafio para o Riddle, pois ele nunca conseguia comprar apenas o básico. No fim do dia, ele voltava cheio de coisas novas para a sua casa na floresta, deixando Harold com os olhos arregalados e um riso nervoso por ser obrigado a ajudá-lo na arrumação. Mas que culpa tinha o rapaz, se ele amava a novidade? A mente afiada do jovem era rápida, sagaz, porém bastante dispersa e por vezes infantil. Sendo assim, ele precisava de doces para tirar o gosto ruim das missões dos Aurores (ver cadáveres não era assim tão bom, sabe?).

Sentado na calçada do Florean, Arkane raspava com a colher as últimas sobras do seu sorvete de hortelã, quando notou uma carta bem à sua frente. Seu coração disparou de felicidade, pois só poderia significar que algum amigo seu havia enviado aquilo. Porém, ao abrir e ler o seu conteúdo, o coração do bruxo congelou. O que aquilo significava? Olhando para todos à sua volta, ninguém em especial parecia vigiá-lo ou algo do tipo, e ninguém parecia estar desconfiado ou se escondendo.

“Não acredito…” murmurou frustrado o bruxo, lendo todo o conteúdo da carta uma segunda vez, depois uma terceira vez, e então rolando os olhos e largando o papel na mesa. O atendente veio, fazendo Arkane voltar à realidade, pagando o que devia e comprando o sorvete para o marido. Encarando a carta em cima da mesa, Arkane pensou bem sobre o que iria fazer e, chiando a língua, foi embora sem preocupar-se em queimá-la ou amassá-la.

Enquanto ele caminhava, pensava no quanto ele havia sofrido. Quantos filhos não haviam sofrido pelos pecados de seus pais? Quantas crianças não morriam por terem pais horríveis ou por serem marcados por maldições? Arkane não podia fazer nada para mudar a sua história, mas ele podia tentar fazer algo melhor para melhorar a história dos outros. Nem todos precisavam passar pelo medo, pelo julgamento ou pelo sofrimento. Arkane tinha o desejo de mudar o mundo e torná-lo melhor, mas ele reconhecia que sacrifícios precisavam ser feitos. Ele não iria conseguir conviver consigo mesmo sabendo que aquilo existia. Parando ao ouvir o atendente gritar seu nome, Arkane suspirou e estendeu a mão com a sua varinha, mirando no papel e ateando fogo ao mesmo com um feitiço.

Ele era leal aos seus objetivos, queria fazer a diferença, mas ele não iria conseguir fazer isso sozinho. Ele precisava de ajuda. E ele precisava saber o que aquela carta significava.