Local: Mansão Malfoy, Jardim
Horário: Três semanas após a festa
Clima: Sol com vento gelado.

Descrição: Três semanas após os acontecimentos da festa, em um dia de manhã no inicio da primavera, Brianna decide mais uma vez tentar conversar com seu irmão e acertar as coisas.

Era inicio de primavera, estava uma manhã bonita, ensolarada, uma brisa fresca batia contra sua pele pela janela aberta do seu quarto, Brianna agarrou a pequena manta ao redor do corpo, seus olhos passando por toda a extensão do jardim da mansão, não se sentia bem, se sentia vazia, fazia três semanas que praticamente era ignorada por seu irmão, suas conversas matinas reduzidas ao mínimo, pulando até mesmo o bom dia. Seus olhos seguem até o balanço de madeira em meio a lavanda e rosas brancas, onde Ben vinha passando a maior parte de seus dias. Ela solta um suspiro, estava na hora de tentar novamente, precisava tentar conversar com ele, precisava ter seu irmão de volta.

Mesmo que estivesse um tanto chateada pelos acontecimentos da festa, entendia a posição dele, entendia que a maior parte da culpa daquilo tudo era dela, por ter decidido esperar, ou enrolar para contar a verdade a ele, e sabia que não estava em nenhuma posição de exigir desculpas, mas sim de pedir para ser perdoada ao invés.

Com esse pensamento na cabeça, desceu até a cozinha onde pegou duas xícaras, para si colocou metade de café e metade leite sem gordura com duas colheres de açúcar natural, e para seu irmão café puro, com apenas uma colher não muito cheia de açúcar natural, como ele gostava.

Saiu, então para o jardim, seguindo para o balanço de madeira, se sentou ao lado do mais velho, e lhe entregou a sua xícara, ficando um tempo em silêncio, enquanto bebericava seu café, e se ajeitava no lugar, colocando os pés para cima.

Suspirou olhando para cima. – Eu sei que ainda está bravo comigo. – Começa antes de voltar seu olhar para Ben. – E eu sei que eu deveria ter contado antes sobre... ele. – Hesitou por um momento em dizer o nome de Noah, optando por não falar. – Tá, talvez bem antes. – Disse repensando no que estava dizendo e em como continuar. – Ben, eu reconheço que errei feio, ok? Eu sei que não é desculpa mas, de inicio não era nada, não imaginamos que isso fosse crescer, e depois foi o medo da sua reação, eu devia ter tido mais coragem e ter me aberto sobre tudo, não queria que descobrisse dessa maneira, e de novo, eu sei que não é desculpa, mas eu estava planejando sim contar para você, inclusive ia contar logo depois da festa. – Observou seu irmão por alguns segundos, voltou seu olhar para frente, bebericando mais uma vez de seu café, seus olhos começavam a arder, o que a fez revirar os olhos, não queria chorar, não de novo. – Eu sei que não mereço, mas eu não aguento mais esse silêncio... – Sua voz estava sai com mais dificuldade a cada palavra, seu peito apertava e lágrimas começavam a surgir. – Não aguento mais essa distância. – Disse mais divagar, tentando manter seu tom claro, então fez uma pausa, tentando controlar a respiração, tentando se manter inteira, antes de voltar seu olhar para o irmão, não conseguindo impedir as lágrimas. – Me perdoa, Ben?

LOOK

Benjamin poderia ser chamado de rapaz privilegiado - e até mesmo mimado - mas será que isso era propriamente culpa dele? Fora criado bem por seus pais, não tinha sobre o que reclamar, mesmo embora muitos torcerem o nariz pelo sobrenome que carregava, mas isso não era importante. Ele tinha orgulho de ser um Malfoy.
E era o orgulho que o estava matando lentamente e o transformando naquele babaca que estava sendo.

Todos os dias limitava a responder o básico - e necessário - para a loira, não conseguindo nem mesmo olhar para a irmã que tanto amava - e que tanto fazia falta para si.
Mas o orgulho era um defeito mortal de qualquer Malfoy. A sensação de ter sido enganado por quem dizia ser um dos poucos melhores amigos era dolorosa demais, mas não era pior do que perceber que a sensação era que sua própria irmão não confiava nele.

Noah e Brianna…

Deveria ter suspeitado que algo poderia estar rolando entre eles. Por Merlim, como pôde ser tão cego?
Os punhos ainda estavam levementes - embora já totalmente recuperados - marcados por leves cicatrizes. O orgulho havia o deixado cego e ir para cima do primo e ter assustado a irmã.
Estava tão envolvido em seus pensamentos que apenas notou a presença da loira quando a mesma entregava o café para ele.

Obrigado... murmurou ao pegar a bebida e dar um gole longo, a bebida aquecendo o interior de seu corpo que gradativamente ia perdendo calor para o ambiente. Não sabia o por que, mas desde cedo, era para aqueles balanços idiotas que recorria quando precisava pensar ou chorar. Talvez por ter sido ali que seu pai tantas vezes lhe ensinou sobre os valores e deveres para com a família e o mundo bruxo.

Ele a ouviu.
Por todo o momento, manteve a atenção focada totalmente no que a irmã dizia, mesmo apenas olhando para os próprios pés enquanto bebia lentamente o café. Estava perfeito. Sempre conseguia adivinhar se fora a irmã ou Think quem havia preparado o café, era quase como se… Pudesse sentir o calor da irmã sendo misturado ao açúcar.
E quando Brianna terminou de falar, o silêncio se manteve entre eles. Mas Benjamin não estava sentado contra o balanço, estava ajoelhado à frente do corpo da irmã, os braços enlaçando a cintura da mesma enquanto chorava silenciosamente contra seu colo. Ele não tinha problema algum em chorar na frente da mesma.

Eu só senti que havia perdido algo entre nós naquela noite. Aquela confiança e aquela certeza de saber que não importava qual fosse a situação, ou a merda, um estaria pelo outro. Eu não ligaria se estivesse namorando o Noah... Era a primeira vez que o nome do primo era dito desde a briga, e isso o fez soluçar brevemente. Eu liguei para o fato de não ter parecido confiável suficiente para saber sobre algo importante da sua vida. Eu confiei a você tudo sobre a minha, como quando Atticus e eu transamos a primeira vez, ou quando eu fiquei a primeira vez com um cara… Tudo, das coisas mais banais até as mais íntimas, eu falei para você. Ele sentou contra o chão, as pernas cruzadas em “X” a frente do corpo enquanto os braços se apoiavam acima do joelho. Mas você não fez o mesmo. Eu me senti, traído.

A sensação de finalmente conseguir colocar para fora o fez soltar um suspiro alto e tombar a cabeça para frente, pousando a testa contra os ombros no momento exato que uma brisa forte passava por eles, fazendo seus cabelos loiros esvoaçarem contra o vento, juntamente aos da irmã. Não soube de onde veio, mas lembrou-se da voz de seu avô sussurrando em sua memória. ”Às vezes é preciso deixar que o vento leve tudo o que está dentro de você. O que for bom, o universo devolve, o que for ruim, bom, o universo transforma.”, embora tivesse certeza que aquilo nunca teria sido dito por Draco.

Quando Benjamin se ajoelho a sua frente, seus braços ao redor de sua cintura chorando, Brianna não se aguentou, suas lagrimas começaram a cair também, e enquanto seu irmão falava, sentia cada vez mais vontade de chorar, seu peito apertava, cada palavra a perfurando, uma mais funda que a outra, o sentimento de culpa cada vez a consumindo mais, como que algum dia ela poderia conseguir ganhar a confiança dele novamente? Como que faria para que tudo voltasse a ser como que era antes? Nem Noah atendia mais direito as suas ligações.

Brianna suspirou e se ajoelhou na frente de Ben, levando suas mãos para o rosto dele, o obrigando a olha-la. – Ben, eu confio em você a minha vida, eu nunca não confiei em você, e não te contar nunca foi uma opção. – Ela o olhava nos olhos, na sua voz rouca e tremula pelo choro tentava carregar toda a verdade naquela frase. – Por favor, você tem que entender, a ultima coisa que eu queria era que você descobrisse dessa maneira, eu já tinha planejado tudo, depois da festa, na mesma noite, a gente ia sentar com você e contar tudo, e esclarecer qualquer duvida, enquanto tomávamos vinho, por que ia estar muito tarde para tomar café. Você diz que não ligaria, mas eu não sabia, estava com medo da sua reação, você é tudo para mim, eu desistiria do meu mundo inteiro por você, eu demorei tanto porque estava com medo... com medo de... – Ela então suspirou mais uma vez, levando as mãos ao rosto, e então voltando seu olhar para cima, as mãos na perna, o choro cada vez mais forte, e Brianna lutava forte contra ele, odiava chorar. – Eu estava com medo de te decepcionar... – soltou uma risada nasalada. – Estupidez minha, vendo agora, eu deveria ter te contado no momento que percebi que o que a gente tinha não era um tipo de brincadeira.

A mais nova não conseguia mais olhar para o irmão, a culpa crescia em seu peito, soltou uma soluçada, levando a mão instantaneamente para a boca, como se aquilo fosse impedir o choro, seu olhar acompanhando sua mão voltando a se encostar na sua perna, desviando o olhar do irmão. Vê-lo daquela maneira, machucado, traído, a matava por dentro, ela se sentia envergonhada, como que pode ser tão estupida de guardar aquilo por tanto tempo? Será que ela havia estragado tudo a ponto de até Noah não a querer mais? Isso explicaria o sumiço... Talvez estivesse apenas delirando, disse uma outra voz na cabeça dela. Se fosse o contrário ela também não a perdoaria.

LOOK