XX - You use your words as a weapon [FECHADA]

A expressão facial de Hellioth não condiz com sua personalidade cruel. Um sorriso se faz presente em seus lábios e com a voz mansa – tais artefatos são utilizados para que possa dialogar com seus fãs. As irises que emitem certa alegria percorrem os corpos de cada mulher que se aproxima e o abraça.

No início, decora cada cheiro – há moçoilas que utilizam perfumes frutados, outras possuem um odor forte, algo próximo de um produto francês e, conforme o tempo passa, não consegue mais memorizar as diversas essências. O próximo método de análise é observar se possuem pelos e o quão femininas são.

Dá um abraço mais leve nas mulheres gordinhas, mas faz questão de que as gostosas fiquem bem próximas, desde que elas demonstrem certa... Consensualidade.

A tarde de entrevista está lotada de pessoas, por isso parece que os fãs aumentam cada vez mais. Passa um bom tempo assinando fotografias e vestimentas, além de, uma vez ou outra, conversa com aqueles que o admiram. – É um prazer conhecê-lo, senhor Crawford! – Várias mulheres disseram tal frase repetidamente. Algumas são bem gostosas, outras são nojentas.

Depois de longas horas, finalmente consegue esvaziar o salão de eventos no mundo bruxo – ainda há algumas pessoas ali, mas pede para que um de seus assessores avise que tem que se retirar.

Após isso, desaparata.

As boas línguas lhe contaram que haveria um show no Cobra Cega, um bar simplório no mundo bruxo, e, em seguida, revelaram a gama de atrações – sua ex-ficante se encontra no meio.

No instante em que se materializa diante o local, as gotículas agressivas atingem o seu corpo bruscamente. O líquido escorre por cada centímetro de sua pele e, em seguida, ultrapassa as peças de roupas do mesmo, deixando-as encharcada. Solta um suspiro pesado e logo adentra o bar e, em seguida, retira a varinha – com um breve gesto, faz com que a água se transforme em uma bola d’água de tamanho mediano e, em seguida, a espalha pelo ar, transformando-a em flocos de neve.

Assim que sua atenção se desvia para o palco, arqueia a sobrancelha esquerda. A voz mansa, o belo corpo e o lindo rosto... Ah, sim, não eram nada desconhecidos para si. Passa a língua entre os próprios lábios e continua ali, parando, um pouco mais adiante da porta para não atrapalhar a entrada, mas não muito longe para vazar caso seja necessário.

Seus olhos focam na cantora. A sua voz é doce e bela – recorda-se dos sussurros proferidos contra sua orelha, o jeito meigo e doce de Raven. Será que ela permanece desta mesma forma? O rapaz cruza os próprios braços, ainda deixando com que a moçoila seja dona de toda a sua atenção. Os olhares trocados foram um pouco constantes, mas nada que mexesse com Hellioth. Pelo menos, não mais. Scott está em um passado distante, podendo ser, no máximo, uma figura que serve somente para substituir os rostos das mulheres que não o agrada – e olha lá!

Assim que o show se encerra, bate algumas palmas. Suas irises continuam focadas na mesma e então faz um gesto com a cabeça em direção ao bar, esperando que ela veja. Caminha até o local indicado e senta-se em uma das cadeiras altas.

“Um vinho, por favor.”

Ao realizar seu pedido, seus olhos se erguem e dá de cara com uma bela atendente. Corpo esbelto, pele negra, fios encaracolados e escuros. A veste do local mostra bem cada centímetro de suas curvas e, discretamente, lança uma olhada. Sequer há qualquer expressão em sua face, pois pode ser pego – e agradece mentalmente em não soltar algum comentário sujo ao ouvir uma voz ao seu lado.

Vira seu rosto de imediato para a moçoila diante si.

Ainda continua sem expressão em seu rosto, mas os traços faciais do rapaz transpassam algo semelhante ao sentimento de felicidade. Sorri gentilmente e solta um suspiro. “Raven, você está bonita.”, o elogio é sincero, fica visível por seu timbre.

Hellioth, desta vez, não age como um imbecil. Ele conhece a garota – e muito bem! O odor agradável da mesma adentra suas narinas. As irises deslizam discretamente pelos braços da mesma. Ela não é peluda e isso é ótimo. A única coisa que o desagrada é o macacão. Ela parece um homem com ele.

“Como anda?”, indaga de forma gentil e desvia sua atenção para a bartender que aparece subitamente, entregando a taça de tamanho mediano com o líquido escuro. Apenas faz um gesto com sua cabeça para agradecê-la e logo volta sua atenção para Raven. “Você podia usar mais vestidos ou saias, já pensou nisso? Ficaria mais bonita ainda.”, o comentário é feito de forma mansa.

Embora a mulher se vestisse desta maneira há muito tempo, Hellioth foi atraído pela mesma – a garota é dona de uma personalidade mansa e parcialmente tímida. Recorda-se dos longos fios de seus cabelos contra seu rosto, os mamilos rosados, a pele clara e a curva bem desenhada da mesma. E há mais um detalhe: ela não tinha pelos – e ainda não tem.

Segura o recipiente de vidro com a mão direita e bebe um breve gole do líquido. Passa a língua entre os próprios lábios. “Você quer uma bebida? Eu pago pra você.”, propõe carinhosamente.

Hellioth fora um cavalheiro quando estava junto de Raven. Era gentil, bondoso – mas explodia em vários momentos, sendo agressivo através de palavras e até mesmo de atos físicos.

“Pode ser vinho ou... Prefere alguma outra bebida?”, arqueia a sobrancelha esquerda ao findar seu questionamento. Faz questão de olhá-la diretamente nos olhos, pois sabe o poder que possui sobre as pessoas e, por este motivo, não será diferente com Raven.

Sorri ao ouvir o pedido da mesma.

Hellioth é um adorador de bebidas alcóolicas, mais especificamente de vinhos. Sabe todos os tipos, quais são os melhores e, por este motivo, possui uma adega em sua própria casa, onde guarda uma coleção invejável deste tipo de bebida, afinal, não há momento errado para se deliciar com uma boa taça, não é mesmo?

A atendente anota o pedido e, em seguida, Hellioth desvia sua atenção da mesma para Raven.

O silêncio toma conta por alguns instantes entre ambos. Parece que, por algum motivo, se tornaram desconhecidos, mas Crawford sabe que é apenas uma mentira – reconhece que seu comportamento agressivo provavelmente causou tudo isso. E embora tenha noção de suas atitudes ruins, ele não consegue parar.

Sabe que é violento, sabe que é abusivo, sabe que consegue deixar as pessoas com medo facilmente – mas como mudar isso? E além disso, por que faria isso? Embora seja uma pessoa com atitudes ruins, suas intenções são boas. Um exemplo? Raven e seu macacão. Se ela não o usasse, provavelmente estaria sendo alvo de flertes alheios, no entanto, ela prefere ficar assim, escondida por trás desta vestimenta feia e esconder sua beleza, como uma flor que jamais desabrochará.

Bebe um gole do vinho e então observa o pedido da moçoila ser entregue. Deposita o recipiente de vidro no balcão mais uma vez. Arqueia a sobrancelha ao ouvi-la e não consegue conter uma risadinha baixa.


Só se encontra neste bar por causa da outra. Talvez por saudades – por ouvir sua doce voz ou, mais provavelmente, por recordar-se da sensação de posse, como se alguma vez na vida fosse proprietário da mesma. “Pelo visto, sua imaginação anda muito ruim, hm?”, sorri gentilmente ao realizar o comentário levemente travesso.

“Me falaram que teria um show por aqui e, coincidentemente, demos de cara.”, finalmente bebe um último gole da taça. O líquido doce desce por sua garganta e faz com que solte um ofego. “Até que a bebida daqui não é ruim.”, fala, ainda com um sorriso em rosto, para Raven e, em seguida, chama a atendente. “Mais uma taça, por favor.”, solicita em um tom cortês.

“Você e October pararam de cantar juntos? Pelo que me lembre, formavam uma banda, né?”, franze o cenho. “O cara-de-batata resolveu escolher outra profissão?”, indaga com a maior tranquilidade do mundo, pouco se importante se isso ofenderá a outra. “Hm... Esperto, caso ele tenha feito isso. Afinal, vocês precisam de um emprego de verdade. Já se imaginou como cantora aos setenta anos?”, uma careta de desgosto surge na cara de Hellioth.

“Se quiser, posso tentar te colocar no Ministério da Magia. Há ótimos cargos como secretárias e algo do gênero.”, a oferta é realizada em um tom gentil – e logo desvia sua atenção de Raven para a atendente, que chega rapidamente com a bebida. “Obrigado, gracinha.”, segura a bebida em sua mão direita e ingere o líquido adocicado.

Hell já consegue sentir os efeitos do vinho em seu corpo, por isso sabe que esta é a última taça da noite.

Seus olhos voltam para a garota no instante em que ela continua a falar. As irises castanhas percorrem as partes desnudas de seu corpo e logo focam na face da mesma enquanto a escuta. “Turnê, é? Que chique.”, arqueia a sobrancelha esquerda.

Hellioth está um pouco surpreso, isso não pode negar.

Para si, a profissão – se é que pode chamar assim, pelo seu ponto de vista – da garota é a mesma coisa de escolher ser uma vagabunda e viver às custas do dinheiro dos pais (ou com alguma renda baixíssima). Não consegue deixar de imaginar a outra passando dificuldade para comprar roupas e até mesmo comida.

Será que é por este motivo que ela está usando muitas roupas masculinas? Normalmente, são mais baratas.

Bebe um bom gole do vinho e passa a língua entre os lábios, umedecendo-os. Em seguida, não consegue conter uma risada baixa ao ouvi-la. “Até os cem anos? Isso se você não morrer de fome até lá, né?”, revira os olhos.

A mulher que quiser se relacionar com Hellioth tem que ter sucesso na vida profissional – ou que fique debaixo da sua asa, não trabalhando, sendo bancada pelo rapaz enquanto cuida da casa. “Provavelmente você vai estar casada com algum rapaz que te banque, porque esse negócio de música não costuma durar muito.”, dá de ombros. As palavras de Hellioth são sinceras, o mesmo não se importa de expor sua perspectiva machista e tóxica. “Quem sabe seu marido não lhe dê roupas de mulher? Com certeza você vai gostar.”, lança uma piscadela para a outra.

“E claro que me importo contigo. Você é uma mulher bonita, quero que você tenha um futuro e...”, cala-se ao ver a mesma se levantar e começar a arrumar suas coisas em seguida. “Ei! Espere, não terminei de falar!”, sua mão direita se move rapidamente e os dedos do maior se fecham com força contra o braço esquerdo da garota.

Nesse momento, tudo para de forma repentina.

As irises castanhas que estão focadas no rosto da mesma desviam a atenção para o local onde seus dedos pressionam. Em questão de segundos, solta a garota e encolhe seu próprio braço, como se fosse uma criança aprontando.

“Bebi demais.”, comenta e solta um suspiro. Consegue sentir a pressão dos olhares sobre si – e isso realmente ocorre: algumas pessoas próximas focam sua atenção em ambos, portanto, Hellioth sabe muito bem que é o momento de se retirar.

“Tenho que ir.”, retira alguns galeões da carteira e os deposita em cima do balcão. “Falou.”, faz apenas um aceno com a cabeça para Raven e logo gira sobre os calcanhares, marchando para fora dali e desaparatando de volta para sua casa.